
Como nas cenas de filmes, o cidadão britânico Vishwash Kumar Ramesh, de 38 anos, é o único sobrevivente do acidente com o Boeing 787-8 Dreamliner na cidade de Ahmedabad, no noroeste da Índia. Visivelmente assustado, ele conseguiu deixar os escombros onde caiu a aeronave, caminhando e conversando.
Em seguida, foi levado para o hospital civil em Asarwa, onde disse que "não tinha ideia" sobre como escapou ileso e consciente. De acordo com a imprensa local, ele a bem, mas ainda em estado de choque. Aproveitou para saber notícias do irmão, que estava sentado em outra fileira de poltronas e que, provavelmente, está entre as vítimas fatais. "Ele estava viajando comigo e não consigo mais encontrá-lo. Por favor, me ajudem a encontrá-lo", disse ele.
- Israel bombardeia Irã; governo israelense fecha espaço aéreo
- Itamaraty confirma retorno de Thiago Ávila ao Brasil
Um vídeo do acidente, que circula nas redes sociais, mostra a aeronave sobrevoando uma área residencial de Ahmedabad. Em seguida, o avião desaparece em meio às árvores e, logo depois, há a explosão com nuvens de fumaça preta.
Nele, Ramesh surge de camisa branca, com manchas de fuligem e sangue, andando com certa dificuldade, mas conversando e cercado de pessoas. Parecia estar atordoado, tentando compreender o que se ava, bastante chocado.
Os jornais Times of India e Hindustan Times informaram que Ramesh, que estava no assento 11A do voo, na janela, percebeu logo que havia algo errado. "Trinta segundos após a decolagem, houve um barulho alto e o avião caiu. Tudo aconteceu muito rápido", disse.
Ele e um irmão retornavam para o Reino Unido. Nayan Kumar Ramesh, de 27 anos, outro irmão do sobrevivente, disse ainda estar perplexo. "Ficamos chocados assim que ouvimos. Falei com ele pela última vez ontem (anteontem) de manhã. Estamos arrasados. Ele disse: 'Não faço ideia de como saí do avião'."
De acordo com o Hindustan Times, Ramesh, que mora com a mulher e um filho no Reino Unido, disse que ficou ansioso em busca do irmão, mas ficou perplexo que, logo após o acidente, só via corpos ao seu redor.
"Quando me levantei, havia corpos ao meu redor. Fiquei com medo. Levantei-me e corri. Havia pedaços do avião ao meu redor. Alguém me agarrou, me colocou em uma ambulância e me levou para o hospital", contou.
No hospital, recebeu o ministro do Interior indiano, Amit Shah. "(Estou) chocado com esse acidente, muito além do que as palavras podem expressar", disse ele, que foi eleito deputado por Ahmedabad.
Escola de Medicina
A aeronave caiu sobre a escola de medicina de uma universidade, a BJ Medical College, atingindo também os dormitórios, por volta das 13h38. Os dois prédios ficam a 2km do aeroporto de onde o avião decolou.
O centro de estudos médicos é um dos mais respeitados da Índia com cursos de graduação, mestrado e doutorado. O assunto é acompanhado pela Associação de Médicos da Federação das Associações Médicas de Toda a Índia (cuja sigla é Faima).
De acordo com a entidade, há de quatro a cinco estudantes desaparecidos, além de três a quatro parentes de médicos residentes ainda não localizados, enquanto há de dois a três universitários em estado crítico, internados na UTI.
Há, ainda, a mulher morta. Ela era casada com um médico. Pelo menos 50 pessoas foram levadas para atendimentos de emergência na faculdade, de acordo com a agência estatal chinesa Xinhua.
Um vídeo, que circula nas redes sociais, mostra que o acidente ocorreu na hora de almoço, o refeitório estava ocupado. No meio do salão foi aberta uma cratera. Havia pratos de alumínio com refeições sobre as mesas e muita comida e bebida pelo chão. Perto das mesas, do lado de fora, estavam os destroços da aeronave.
O local onde ficam os dormitórios, chamado de Atulyam Hostel, abriga os alunos de doutorado e mestrado em cirurgia, e foi afetado. Segundo o News Skys, é possível ver muita fumaça, pessoas correndo e bombeiros tentando socorrer a todos.
Três perguntas para
Ajay Valgi, 30 anos, dono de uma loja de bebidas em Leicester (Reino Unido), primo de Vishwash Kumar Ramesh
O senhor conversou com Ramesh por telefone?
Sim. Ele me disse que tudo o que escutou foi o barulho da explosão do avião e saltou da aeronave. Então, viu cadáveres ao seu redor. Ele estava preocupado com o irmão (que também mora no Reino Unido e foi à Índia visitar parentes, mas segue desaparecido), que estava com ele no voo (em outra fileira de poltronas).
Como se explica o fato de ele estar vivo?
É um milagre. Deus deu a ele outra vida.
Ramesh é um homem espiritualizado?
Sim. Ele é hindu, acredita em Deus. Ramesh é um homem religioso. Também é uma pessoa gentil, honesta, solidária, respeitosa e "pé no chão". (RC)
Famílias inteiras entre as vítimas
No voo, havia muitos ageiros que foram à Índia em busca de conhecimento espiritual e do aprendizado sobre ioga e hinduísmo, como o casal britânico Fiongal e Jamie Greenlaw-Meek, que istra um centro espiritual Wellness Foundry e um estúdio de ioga Ramsgate em Londres.
No dois locais, há leituras de tarô, aplicação de reiki e aulas de ioga. Momentos antes da decolagem, os dois telefonaram para amigos e falaram do amor pela Índia e pelas experiências "incríveis" que viveram lá, segundo o The Guardian.
Akeel Nanawaba, de 36 anos, a mulher Hanna Vorajee, 30, e sua filha Sarah, 4, voltavam para casa, no Reino Unido, após uma festa de família, que durou cinco dias. O casal istrava uma empresa de recrutamento internacional, com escritórios em Gloucester e Ahmedabad.
O amigo e sócio, Shoyeb Khan Nagori, lamentou a tragédia. "Jantei com eles ontem (anteontem) à noite. Eles eram uma família adorável, e Akeel e sua esposa eram pessoas extremamente bem-sucedidas", afirmou ele ao The Mirror.
Akeel e a família moravam em Gloucester e pertenciam à comunidade muçulmana. "Infelizmente, fomos levados a crer que três moradores de Gloucester, Akeel Nanabawa, sua esposa e seu filho de quatro anos, estavam a bordo. Aqueles que desejam fazer taziyat, por favor, deem um tempo para que a família possa se reunir para lamentar", informou a comunidade.
Na lista de desaparecidos, estão também Raxa Modha, de 55 anos, o neto Rudra, de 2 anos, e a nora Yasha Kamdar. A viagem da família ocorreu após a morte do patriarca Kishor. Os três retornavam para Northamptonshire, onde moravam. Membro da Equipe do Ano no Comfort Inn London, em Westminster, em 2017, o gerente do hotel Javed Ali Syed, a mulher Maria, os filhos Amani e Zayn, também pode estar entre os mortos.
Boeing se solidariza
Com 14 anos, a aeronave Boeing 787-8 Dreamliner, que caiu na área de Meghaninagar, perto do aeroporto de Ahmedabad, no estado indiano de Gujarat, nunca registrou incidentes, segundo a ABC News. Foram mais de 41 mil horas de voo, o que é considerado normal para esse tipo de avião, de acordo com a Cirium, empresa de análise de aviação. Diante da tragédia, a Boeing prestou solidariedade às famílias e coloca-se à disposição para prestar esclarecimentos, enquanto as ações da empresa despencam.
"Nossas mais profundas condolências aos entes queridos dos ageiros e tripulantes a bordo do voo 171 da Air India, bem como a todos os afetados em Ahmedabad. Conversei com o presidente da Air India, N. Chandrasekaran, para oferecer nosso total apoio, e uma equipe da Boeing está pronta para apoiar a investigação liderada pelo Escritório de Investigação de Acidentes de Aeronaves da Índia", afirmou em comunicado a presidente e CEO da Boeing, Kelly Ortberg.
De acordo com a CNBC, o Boeing 787-8 Dreamliner é uma aeronave popular, de corredor duplo. O primeiro voo foi em dezembro de 2013. A Air India, responsável pela aeronave, informou que havia 34 aviões do tipo em serviço. A ideia é adquirir mãos 20 tanto da Boeing quanto da Airbus, sua principal concorrentes.
Após o acidente aéreo, as bolsas de valores de Nova York registraram queda nas ações da Boeing, que despencaram 4,79% depois da queda do avião. As ações da GE Aerospace caíram 2,25%.
Os motores GEnx da empresa equipavam o 787 da Air India. As ações da Oracle avançaram 13,3% após a empresa divulgar lucro ajustado do quarto trimestre fiscal acima das estimativas dos analistas. A receita também cresceu, especialmente no negócio de infraestrutura em nuvem.